O termo justificação pela fé pode trazer certa confusão. Seria a fé
meritória diante de Deus? Teria a fé um papel fundamental na salvação e apenas
aqueles com um "tamanho mínimo de fé" seriam capazes de aceitar a Cristo e Sua
salvação? Antes de entendermos o que é fé, é importante entendermos o que a fé não é: (1) A fé não é o meio, mas a base para a salvação - O termo justificação pela fé pode trazer a ideia de que a fé é o meio
para se atingir a justificação. Porém, como vimos até agora, a justificação é
uma obra exclusivamente divina. Mais uma vez, repetimos que "a justificação é a obra de Deus ao jogar no pó a glória
humana". Paulo nos diz claramente que
"pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus"
(Ef 2:8). Somos salvos pela graça (elemento primário) mediante a fé
(instrumento). Isto elimina o sentimento de superioridade em algumas pessoas
que julgam serem mais espirituais do que outras por possuírem uma grande fé; (2) Não é o elemento primário da salvação - O elemento primário da salvação é a graça. Mais uma vez citamos Efésios
2:8 que diz: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de
vós; é dom de Deus"; (3) Não é meritória em si mesma - Em Lc 7:1-10 temos o relato do
centurião que foi até Jesus buscando a cura de seu servo. Neste relato Jesus
elogia a fé daquele romano. Contudo, fica a pergunta: "Aquele homem tinha
grande fé, mas se ele tivesse recorrido aos fariseus, através de sua fé, os fariseus
teriam curado seu servo?" A resposta é clara: Não! Os fariseus não teriam
curado o servo porque a fé vale pelo seu objeto. Aquele soldado romano colocou
sua fé no "objeto" correto – Cristo; (4) É a parte humana na justificação, mas não é auto-gerada, é um dom - A fé é um dom de Deus. Não temos
capacidade de gerar fé pela nossa própria vontade. Este dom é concedido aos
homens e cabe a estes cultivá-lo; (5) Não vale pelo seu tamanho - Encontramos o seguinte relato de Jesus em Mt 17:20: "Pois em verdade vos
digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa
daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível". E muitos julgam não
ter fé nem do tamanho de um grão de mostarda por não conseguirem tal feito! A
ênfase de Jesus é que mesmo uma pequenina fé, posta no objeto correto, pode ter
o poder para efetuar grandes coisas. A ênfase não está no tamanho da fé! A fé
vale pelo seu objeto e não pelo seu tamanho. Muitas pessoas depõem sua fé no
objeto errado, mas o simples fato de terem fé não lhes trará benefício.
Para a salvação, em especial, muitos depõem sua fé em sacramentos, doutrinas,
obras, sentimentos, caráter (perfeccionismo) ou até mesmo na própria fé (existe
a fé na fé!). Uma pequenina fé, agarrada a Cristo – é tudo o que precisa um
pobre ser humano destituído de Deus. Entendido o que a fé não é, passamos ao que a fé é: (1) Transferência de confiança - Em seu significado mais básico, fé é transferência de confiança. Nos
antigos escritos gregos a palavra pístis (fé) é usada para descrever um náufrago que encontra um pedaço de
madeira no meio do oceano e se agarra a isto até que o socorro chegue. Fé é
confiar, agarrar-se em seu objeto. Para nós, agarrar-se a Cristo, até que o
nosso Salvador venha nos buscar; (2) É mais algo que fazemos do que temos - A crença se torna fé no ponto da ação. Ao falar sobre fé, a Bíblia
relata que "Abel ofereceu, Noé obedeceu, Moisés decidiu" e assim por diante; (3) Possui três dimensões - Conhecimento: Apesar de não ser sinônima de conhecimento, ela não é
vazia de conhecimento. A sinceridade não tem poder para salvar. Você pode ser
sincero, mas estar sinceramente errado! Você pode ter fé em Baal, mas isto não
faz dele um deus! Certeza: Convicção naquilo em que você foi informado. Compromisso: O diabo conhece e tem certeza, mas nunca chegou ao estágio
do compromisso. Quando não temos um compromisso com Deus, estamos no mesmo
nível do diabo! Existe um grande problema ao enfatizarmos as duas primeiras
dimensões da fé e esquecermos da terceira. Todos os pontos abordados até aqui enfatizam a realidade de que a
salvação é para todos. Não apenas para a igreja. Não apenas para os
"espirituais". Não apenas para os de "grande fé". Sendo assim, por que pregar
então? Se eu quiser ir de São Paulo ao Rio de Janeiro a pé em dias chuvosos eu posso até chegar, mas não seria melhor e mais seguro se eu estivesse dentro
de um confortável automóvel? Conhecendo o evangelho, as chances que alguém tem
de aceitar a Cristo não são maiores? Hoje precisamos reconhecer que nada temos
a oferecer para Deus, mas se estivermos dispostos, Ele pode transformar o nada
em alguma coisa e nos transformará em condutos da salvação a muitas pessoas que
estão desanimadas, desesperançadas e pensam que não possuem fé suficiente para
andarem nos caminhos do Senhor.
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